Os brasileiros são os mais arrependidos, na América Latina, de ter começado a fumar. É o que revela pesquisa feita em 20 países do mundo. No Brasil, participaram 1.830 pessoas de três capitais (São Paulo, Rio e Porto Alegre).
Os dados constam de relatório inédito de um projeto internacional que avalia políticas de controle de tabaco (ITC) e que será divulgado nesta sexta-feira (30) em Brasília por um grupo de entidades, entre elas o Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Entre os brasileiros pesquisados, 85% dos homens e 89% das mulheres lamentam ter começado a fumar —a média para o país é de 87%.
É o maior índice de arrependimento entre os três países pesquisados na América Latina —no México, a média é 74% e no Uruguai, 66%.
No conjunto de 20 países, a maior taxa de arrependidos está na Tailândia, com 96% dos homens —a pesquisa não ouviu as mulheres.
A contadora Maria Aparecida de Rezende, 55, fumante desde os 18 anos, é uma das que lamentam ter começado. “Era moda fumar, todos fumavam. Sinto os reflexos do cigarro na pele, nos dentes, por mais que me cuide. Na academia, fico cansada.”
Há 20 dias, Cida decidiu abandonar o maço de cigarros diário que fumava. Ela quer fazer uma lipoaspiração e o médico disse que só vai operá-la se estiver livre do tabaco. “Agora vou conseguir.”
Assim como a contadora, mais de dois terços dos fumantes pesquisados (69%) têm opinião negativa sobre o tabagismo e 80% deles já tentaram parar de fumar.
“As pessoas não querem fumar, estão conscientes do mal que o cigarro traz e se sentem enganadas em todo esse processo”, diz Tânia Cavalcante, secretária-executiva da Conicq (comissão interministerial para políticas de controle do tabaco), que coordenou a pesquisa no país.
A maioria, porém, está dependente do cigarro —mais da metade (54%) relata um alto grau de dependência.
Isso fica evidente em um levantamento do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira). Quase dois terços (65%) dos fumantes com câncer ali atendidos não conseguem largar o cigarro mesmo após o diagnóstico do tumor.
“Deveria ser uma grande motivação, mas não é isso o que acontece. A dependência acaba sendo maior do que a força de vontade”, diz o médico Frederico Fernandes, coordenador do Grupo de Apoio ao Tabagista do Icesp.
O hospital oferece tratamento (comportamental e medicamentoso) aos doentes que desejam parar de fumar. Metade deles consegue.
Fonte: Folha de S. Paulo
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