Cigarro, o prazer que arruína e mata


É proibido fumar em locais fechados e até nas calçadas em que há mesas de bar — agora é lei; aliás, debaixo de qualquer toldo a fumaça não se dilui e está vetada; fumódromos foram eliminados das empresas; não se pode fumar nos meios de transporte público nem nos táxis. Nos Estados Unidos e em alguns países europeus é proibido também fumar nos parques públicos e até em calçadas.

As restrições vão se alastrando, o cerco se fecha, transformando os fumantes em cidadãos de segunda classe ou portadores de doença contagiosa, pois passivos também podem sofrer as consequências. Sem falar daquelas ilustrações assustadoras estampadas nos maços de cigarro.

Cheiro de fumaça desagrada aos mais sensíveis, principalmente ex-fumantes, temerosos de voltar ao vício; em casa, geralmente, nada é proibido. Mas a reação da família costuma ser tão severa que o melhor é sair à rua para umas baforadas; essa reação costuma ser mais irada por parte dos mais jovens, que hoje em dia recebem as informações mais cedo.

E assim o mundo vai ficando cada vez menor e mais restrito para os fumantes, que não devem se queixar de perseguição ou de preconceito. Trata-se apenas de uma natural manifestação da Humanidade pela preservação da vida. E os próprios viciados sabem disso.

No último dia 31 de maio foi celebrado mais um Dia Mundial sem Tabaco, data criada em l987 pela OMS (Organização Mundial da Saúde), com foco também nos danos que a produção e o uso do tabaco provocam no meio ambiente, na exploração do trabalho infantil e nas consequências do fumo passivo. No Brasil, o tema foi Fumar: faz mal pra você, faz mal pro planeta.

Uma pesquisa feita pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde mostrou que aproximadamente 25 milhões de brasileiros com mais de 15 anos fumam derivados de tabaco. Pior: 93% dos fumantes declararam ter ciência dos males do fumo e 67% perceberam campanhas antitabaco nos meios de comunicação. Apesar disso, apenas 52% tinham planos de parar e só 7% queriam pôr a ideia em prática no mês seguinte à pesquisa.

Como se vê, a luta entre a vontade de parar e a dependência dos componentes químicos do cigarro é de vida ou morte. Alguns medicamentos e uma boa terapia hoje são mais eficientes no combate ao tabaco. Porém, o milagre da cura só depende mesmo da força de vontade do fumante.

Uma ajuda importante certamente está no livro do professor Paulo Frigério A insuperável alegria da vitória – Como nocautear o cigarro e evitar tragédias, da Scortecci Editora. Pouco mais de cem páginas de uma emocionante vitória sobre o vício.

Pois, afinal, os números são alarmantes. Segundo a OMS, a cada ano, cerca de 5 milhões de pessoas morrem por fatores ligados ao tabaco; em duas décadas, podem ser 8 milhões, a maioria em países com menor renda. Alerta da OMS: “O tabaco mata mais que tuberculose, Aids e malária juntas”. No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, 11% das mortes são atribuídas ao cigarro. Entre as provocadas por câncer de pulmão, traqueia e brônquios, 72% devem-se ao tabagismo.

Números semelhantes podem ser relacionados às mortes provocadas por doenças do coração, como AVCs, hipertensão, ataque cardíaco, aterosclerose e outras. A fumaça do cigarro é uma mistura de mais de 4.700 substâncias tóxicas, todas com alto poder de destruição, como monóxido de carbono, alcatrão ou nicotina.

Por mais que o fumante tenha prazer no seu vício, ele precisa saber que, aos poucos, está também a caminho de um enfarte. O Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue dos Estados Unidos relacionou algumas causas de doenças cardíacas provocadas pelo fumo;

Espessamento do sangue, o que dificulta o transporte de oxigênio às extremidades do corpo por meio da circulação;

— Aumenta a pressão e o ritmo cardíaco, o que força o coração a trabalhar mais;

Reduz as taxas de colesterol bom (HDL) e aumenta o colesterol ruim (LDL) na corrente sanguínea;

Provoca ritmo cardíaco anormal e aumenta a reação inflamatória do corpo, o que favorece o aparecimento de placas de gorduras nas artérias;

Endurece as paredes das artérias, deixando-as mais estreitas e dificultando assim o bombeamento de sangue pelo músculo cardíaco.

Esses são os perigos, embora os males comprovados nem sempre tenham sucesso na luta antitabaco. Esse dado também preocupa: um levantamento do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira mostrou que quase dois terços (65%) dos fumantes atendidos ali não conseguem largar o cigarro. Mesmo com o diagnóstico de tumor.

A verdade é que esse corredor é muito estreito e perigoso — não vale a pena entrar nele. Poucos conseguem atravessá-lo, muitos são abatidos antes por alguma doença; quem insiste sabe que terá terríveis desafios pela frente, com poucas chances de sucesso, pois nada neste caminho favorece — e o final é quase sempre de tristeza. Portanto, arme-se de força de vontade e fuja desse vício enquanto é tempo.

Afinal, viver bem e com boa saúde ainda é a melhor escolha.

Fonte:Jornal do Brasil

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