Um encontro realizado ontem no Plenarinho da Assembleia Legislativa teve como tema a liberação dos entorpecentes no Brasil. A reunião foi sugerida pelo deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS), que propôs em abril, junto ao Instituto Padre Haroldo, um “Manifesto contra a legalização das drogas no Brasil”. Ele também é autor do Projeto de Lei (PL) 7.663/2010, que sugere aumento de pena para traficantes, incentivos às comunidades terapêuticas e internação involuntária, entre outros pontos. O debate teve participação de representantes de entidades ligadas à saúde, à religião, ao Judiciário e de parlamentares.
Segundo Terra, o tema da liberação das drogas só tem sido discutido por quem as usa. “Não adianta só os intelectuais das universidades debaterem o assunto lá da sua torre de marfim. É necessária uma abordagem de quem convive com esses problemas no dia a dia”, afirma. A dependência de drogas, para o deputado federal, é o maior problema de saúde pública e segurança que já houve, e se agrava a cada dia. Um dos motivos citados é o Brasil fazer fronteira com os países que mais produzem cocaína no mundo. “E com a legalização da maconha no Uruguai, tende a piorar, porque não pensem que só a venda de cannabis é afetada com isso, a de outras drogas também”, avisa.
A dependência de entorpecentes, de acordo com o parlamentar, é a maior justificativa para interdições de jovens no País. Além disso, o uso da maconha seria a principal causa de acidentes de trânsito, sendo a segunda o álcool. “As maiores violências domésticas e urbanas são causadas pelo alcoolismo. Imaginem se as outras drogas forem legalizadas?”, questiona. O auxílio-doença, oferecido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), é destinado, atualmente, quatro vezes mais a dependentes de crack do que a alcoólatras, conforme Terra. O deputado federal sustenta que não há país no mundo em que algo tenha melhorado após a liberação.
O psiquiatra especialista em pesquisas sobre maconha Sérgio de Paula Ramos esteve presente no encontro e relacionou o marketing utilizado quando o cigarro deixou de ser artesanal e passou a ser industrializado, no início do século passado, ao marketing realizado hoje quanto à cannabis. Naquela época, segundo Ramos, as propagandas diziam que o tabaco fazia bem para a bronquite, relacionava fumar com ser independente e alegava que havia médicos que aprovavam. “Hoje, se diz que a maconha faz bem para algumas doenças, que você deve ter o direito de escolher se quer fumá-la e que alguns médicos recomendam. Ou seja, a estratégia de marketing é a mesma”, revela.
A preocupação do médico é de que, para controlar a epidemia do cigarro, foi preciso um século de campanhas, o que pode ocorrer novamente se a maconha for legalizada. “Maconha é a droga mais lesiva ao cérebro juvenil, ela emburrece, isso está comprovado por pesquisas. Se a ciência mostra quão mal faz a cannabis, por que essa onda liberatória?”, pondera. A questão, para ele, seria econômica, estimulada por empresas que têm expertise em fabricar cigarros.
Conforme Germano Bonow, que foi à reunião representando o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), um dos grandes determinantes na luta contra as drogas é a dificuldade de acesso ao atendimento. A facilitação para se encontrar a maconha também foi citada por ele como algo que aumenta o uso da droga, principalmente por jovens, justamente a faixa etária que é mais predisposta à dependência. O presidente da Associação de Psiquiatria do Estado e da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), Carlos Salgado, ressaltou que a consciência entre médicos de que o uso de entorpecentes não deve ser legalizado é consenso. “Nosso desafio é tornar apetecível à sociedade o nosso discurso, como já fizemos com o cigarro”, destaca.
Fonte: Jornal do Comércio
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