Com apresentação bastante atraente, o narguilé tem usado uma manobra de popularização diferente do cigarro comum e, desta forma, tem conquistado cada dia mais adeptos. A grande oferta de aromas e sabores geralmente adocicados tem seduzido principalmente os jovens, por modismo, influência social ou por acreditarem ser inofensivo. O que muitos ignoram são os riscos. Médicos alertam para o apelo da nova moda e afirmam que o consumo pode trazer graves prejuízos à saúde.
Em 2008, uma pesquisa realizada a cada cinco anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em parceria com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), constatou que quase 300 mil pessoas eram consumidoras do cachimbo oriental no país. No ano seguinte, o Ministério da Saúde apontou um alto índice de consumo entre jovens de 13 a 15 anos. A partir de então, vários municípios de São Paulo, do Paraná e também do Distrito Federal entraram com projetos de lei para impedir a venda de narguilés a menores de 18 anos, bem como seu uso em bares e locais públicos.
“Em 2008, havia 25 milhões de brasileiros usando tabaco; desses, 24 milhões fumavam cigarro. Não parecia ser importante o uso do narguilé no Brasil. Mas estudos internacionais chamaram a atenção para o problema. Fomos analisar e vimos que eram 270 mil já em 2008. O narguilé induz à dependência em tabaco a população jovem”, diz a gerente da Divisão de Epidemiologia do INCA, Liz Maria de Almeida.
Risco de câncer e outras doenças
“Vários estudos ainda estão sendo feitos, pois não há um consenso quanto à comparação dos malefícios entre o consumo do cigarro e do narguilé. Porém, sociedades e associações médicas já concordam que o consumo do narguilé ou de qualquer outro produto derivado do tabaco acarreta prejuízos à saúde”, explica a médica Maria Vera Castellano, membro da Comissão de Tabagismo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT) e coordenadora do ambulatório de tabagismo do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE). E não é só isso. Pesquisas também comprovam que a forma de uso por compartilhamento do bocal pode propiciar doenças infectocontagiosas como herpes, hepatite C e tuberculose.
Pesquisa coordenada pelo INCA em 2011 demonstrou que 80% dos estudantes universitários de São Paulo que consumiam produtos derivados do tabaco eram adeptos ao narguilé. Seu diferencial é a forma como é consumido: jovens reúnem-se para sessões de narguilé. A fumaça aspirada atravessa um tubo aquecido por carvão, passando pelo fumo aromatizado e com sabores (chocolate, chocomenta, chiclete, menta com limão). Dados do próprio INCA indicam que o uso de narguilé colabora para o desenvolvimento de câncer de pulmão, de boca e de bexiga, além de doenças respiratórias, doenças na gengiva, aterosclerose e doença coronariana.
4,7 mil substâncias tóxicas
Apesar de parecer inofensivo pela apresentação - como qualquer outro produto originado do tabaco -, o que é aspirado no narguilé contém nicotina e mais 4,7 mil substâncias tóxicas, também presentes no cigarro tradicional. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que os efeitos de uma sessão de narguilé, com duração de 20 a 80 minutos, são equivalentes a até 100 unidades de cigarro. Análises comprovam que sua fumaça contém quantidades de nicotina, monóxido de carbono, metais pesados e substâncias cancerígenas superiores a contida na fumaça do cigarro.
Além do tabaco, é colocado carvão em brasa. A queima do carvão produz substâncias cancerígenas, entre elas, o monóxido de carbono, potencializando os riscos para seus consumidores. “Uma puxada do narguilé equivale a dez cigarros e a informação que é disseminada aos jovens, de que não faz mal porque a água fria purifica as impurezas, é mentirosa, porque ela fica suja pelo alcatrão”, diz o médico pneumologista Celso Rodrigues da Silva, coordenador do Programa de Controle do Tabagismo do Distrito Federal.
O fato de o jovem não tragar a fumaça e ficar apenas com o gosto dos aromas adocicados na boca – e que, devido a isso, não teria a saúde comprometida - é também controversa, uma vez que o narguilé, em muitos casos, é a porta de entrada para a dependência e o consumo de outras formas de tabaco. As substâncias nocivas são absorvidas pela mucosa da boca e o jovem que tem o primeiro contato com as substâncias pelo narguilé acaba se viciando.
Bomba
“Alguns estudos sugerem que a quantidade de nicotina inalada com o narguilé é pelo menos o dobro da inalada pelo consumo do cigarro normal, causando uma dependência ainda maior. Além disso, o cigarro é consumido em cinco ou dez minutos, enquanto o narguilé, geralmente utilizado socialmente na roda com os amigos, é fumado por até duas horas seguidas, intensificando a quantidade de nicotina", diz o cirurgião oncologista Jefferson Luiz Gross, diretor do Núcleo de Pulmão e Tórax do A.C. Camargo Cancer Center.
Segundo, ele outra preocupação dos especialistas é que o uso de narguilé está associado, muitas vezes, ao consumo de outras drogas. Algumas pessoas colocam bebida alcoólica, como vodca e cachaça, em vez da água, e misturam maconha ou crack com o tabaco. “Nessas situações, é uma verdadeira bomba. Além do álcool, que é volátil, a pessoa também inala as substâncias tóxicas do tabaco, das outras drogas e da fumaça do carvão”, completa.
Por dentro do Narguilé
:: O que é? O narguilé é um cachimbo de água muito utilizado na cultura árabe, indiana e turca, preparado com um fumo especial, feito com tabaco, melaço e frutas ou aromatizantes. O fumo é queimado em um fornilho e sua fumaça, após atravessar um recipiente com água, aspirado por uma mangueira até chegar à boca. Também é conhecido como cachimbo d'água ou shisha ou hookah
:: O narguilé vicia? Sim, a nicotina extraída do tabaco no narguilé vicia
:: A fumaça não é tragada? Assim como no cigarro, mesmo sem tragar, o fumante inala as substâncias tóxicas, além da grande quantidade de monóxido de carbono proveniente da queima do carvão
:: A água reduz os efeitos nocivos do fumo? A água usada no narguilé absorve apenas 5% da nicotina, fazendo com que os fumantes sejam expostos a quantidades suficientes para que a droga cause dependência. A pessoa acaba fumando por mais tempo e se expondo a maiores quantidades de fumaça, composta por substâncias cancerígenas e gases nocivos
:: Existe lei para o controle? Em São Paulo, a Lei 13.779, que restringe a venda e o consumo de narguilé apenas aos maiores de 18 anos, foi aprovada pela Assembleia Legislativa em outubro de 2009
Fonte: Instituto Nacional do Câncer (INCA)
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