O governo uruguaio fará em julho uma licitação para o plantio de cinco hectares de maconha legalizada, a metade da demanda estimada, no que representa a primeira etapa de uma experiência sem precedentes, que prevê que a cannabis chegue às farmácias no fim do ano.
"Começaremos com a metade dos hectares previstos até o final. Seriam, no máximo, cinco", explicou à AFP o secretário-geral da Junta Nacional de Drogas (JND), destacando que "deve haver cautela, este é um processo inicial".
"Se plantássemos 10 hectares para cobrir toda a demanda estimada, o que eu faria com a sobra? Teríamos que armazená-la em condições específicas, o que seria tremendamente complicado", indicou.
Segundo cálculos oficiais, seriam necessárias entre 18 e 22 toneladas anuais para abastecer um mercado estimado em 150 mil consumidores, que terão que se registrar para ter acesso à maconha mediante o cultivo em clubes, o cultivo próprio ou a compra em farmácias, escolhendo uma das opções, e em quantidade limitada.
Desta forma, a produção inicial acontecerá em consonância com o registro de usuários, e aumentará de forma progressiva, explicou Calzada.
Haverá variedades de maconha legalizada, com quatro concentrações diferentes (de 5% a 14%) de tetraidrocanabinol (THC), seu componente psicoativo, para que o público possa escolher, acrescentou.
A plantação será entregue à iniciativa privada mediante um "processo competitivo", entre mais de uma centena que manifestaram interesse.
O governo escolherá no máximo quatro para se ocupar da produção, uma decisão em que pesarão os antecedentes e a experiência das empresas.
"Segundo o estudo econômico que temos, a partir da produção de duas toneladas, o negócio se torna rentável", afirmou Calzada, estimando que, para este montante de produção, conseguiria-se um lucro de cerca de 250 mil dólares.
"Começa a ser uma proposta interessante a partir de quatro toneladas de produção. Mas não queremos que fique nas mãos de muito pouca gente", indicou.
Um processo 'irreversível'
O plano é definir as empresas que irão produzir em agosto, para que a maconha possa ser plantada em setembro e outubro e estar nas farmácias até dezembro, quando já se saberá quem sucederá no ano que vem o presidente José Mujica, principal defensor do projeto.
"Queremos deixá-lo encaminhado, porque é uma responsabilidade política. Sabemos que, no próximo mandato, a ênfase será diferente. Mas é muito difícil desmantelá-lo, pela lógica da sociedade uruguaia, em que o peso da legalidade é importante", opinou Calzada.
"O principal me parece que será mantido. Ou seja, deu-se um passo que, em muitos aspectos, é irreversível", assinalou.
A lei que regulamentou o mercado da maconha, aprovada em dezembro passado, deixou nas mãos do Estado a tarefa de controlar todas as etapas da cadeia, desde a importação das sementes até a venda da substância em farmácias.
Apenas maiores de 18 anos, inscritos e residentes no país, poderão comprar até 10 gramas semanais de cannabis, a um preço de 90 centavos de dólar o grama.
Nesta segunda-feira, o governo deveria começar a selecionar o software que colocará em prática, até o fim de julho, o registro de cultivadores para consumo próprio e clubes de consumidores, que terão limites de produção.
Para julho, também está prevista a aprovação do decreto regulamentar sobre a maconha industrial, enquanto a regulamentação da maconha medicinal ainda levará de dois a três meses.
Fonte:Jornal O Estado de Minas
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