O Reino Unido pode se tomar o primeiro país a proibir a venda de cigarros; inicialmente, para as pessoas nascidas depois do ano 2000, e que teriam, portanto, 14 anos hoje.
A expectativa é, com isso, banir o fumo até o ano 2035, criminalizando a venda para toda uma nova geração. A ideia foi aprovada no encontro anual da Associação Médica Britânica (BMA na sigla em inglês), a mesma que fez lobby para duas leis já em vigor: a da proibição do fumo em carros com crianças (de 2011) e em lugares públicos (2002). Isso significa que uma das entidades mais poderosas do país também fará campanha para a aprovação dessa proposta no Parlamento.
O argumento do autor do projeto de lei, Tim Crocker-Buque, especialista em saúde pública, é que os jovens são os mais afetados pelo cigarro. Com a proibição, ele crê, o país poderia se tomar o primeiro a erradicar completamente o fumo.
“Oitenta por cento dos fumantes começam quando adolescentes, como resultado da pressão de outros jovens” disse. Quem começa a fumar aos 15 anos tem três vezes mais chances de morrer de câncer do que quem o faz aos 20 e poucos.
Além disso, 23% dos indivíduos entre 11 e 15 anos já experimentaram o cigarro no Reino Unido, segundo estatísticas nacionais de 2013. Ao todo, 20% da população são fumantes.
Iniciar o hábito na adolescência não é tendência só do Reino Unido, mas em todo o mundo, segundo a psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do setor de Dependência Química da Santa Casa de Misericórdia do Rio, que defende a campanha: “Sou absolutamente favorável. O papel do Estado é proteger os adolescentes da dependência, pois é uma época em que não se sabe bem a consequência das escolhas. É quando há mais curiosidade por drogas”.
A proposta britânica ganhou o apoio de Sheila Hollins, presidente do conselho científico da BMA, que diz que ela "quebraria o ciclo de crianças começando a fumar". Mas foi rejeitada por outros médicos, que temem que a medida leve o cigarro para o mercado negro.
Grupos britânicos também questionam, segundo o jornal "The Independent” a proposta de banir o cigarro seria realista. Uma nota do Departamento de Saúde britânico, por exemplo, preferiu dar ênfase às ações que já estão em curso: "Já colocamos em prática ações para proteger as crianças dos perigos da compra de cigarros por adultos irresponsáveis e da fumaça nos carros. Também estamos prestes a realizar uma consulta pública sobre a padronização das embalagens e estamos proibindo a venda de cigarros eletrônicos para pessoas abaixo dos 18 anos".
A opinião é compartilhada pela Diretora-Executiva da ONG Aliança de Controle do Tabagismo (ACT), Paula Johns, lembrando que o projeto britânico deve ter sido inspirado numa ideia em debate em Cingapura. “Acontece que a Ásia tem um contexto cultural diferente. Há menor resistência a regulações” explica a especialista.
Em democracias mais questionadoras, como o Reino Unido, é complicado adotar esse tipo de medida. Há muita margem para os ativistas que pregam a liberdade individual e são contra o chamado "Estado babá". Paula acrescenta que há outras medidas já comprovadamente eficazes que precisam ser antes colocadas em prática. Ela cita a norma brasileira que proíbe aditivos nos cigarros, sobretudo os de sabores e aromas.
Fonte: Adaptado de Think Progress
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