O dia 29 de agosto marca o Dia Nacional de Combate ao Fumo. É importante fazer algumas reflexões sobre os efeitos dessa substância na vida da população. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), todos os anos quase 15 mil pessoas desenvolvem o câncer de boca e cerca de cinco mil pessoas morrem dessa doença. O cigarro é um dos principais causadores do câncer de boca. E, por isso, o fumo deve ser combatido diariamente e não apenas em um dia do ano.
Atualmente, o alerta mais importante que é preciso fazer para um fumante, ex-fumante ou até fumante passivo é sobre a importância da prevenção do câncer de boca. A cada seis meses, é preciso que este paciente seja examinado por um dentista para fazer o exame preventivo de boca. Somente com um diagnóstico precoce há mais chances de cura. É preciso lembrar que as chances de o câncer voltar em fumantes que tiveram a doença e não pararam de fumar são seis vezes mais do que no caso daqueles que conseguiram abandonar o vício. E ainda: se o fumante com câncer não larga o vício do cigarro, ele responde de maneira menos favorável ao tratamento.
Os efeitos colaterais da radioterapia e da quimioterapia são muito mais graves e a qualidade de vida é reduzida. Porém, estudos mostram que 30% dos fumantes com câncer insistem em continuar com o vício. Os familiares que são fumantes também não se sensibilizam com números. Mesmo os que se sensibilizam, muitas vezes, não encontram forças para deixar de fumar. Isso porque, na maioria dos casos, consideram simplesmente que podem deixar de fumar na hora que quiserem e não procuram ajuda especializada. Assim, vão protelando a decisão de abandonar o vício.
Essas pessoas continuam fumando não porque querem, mas simplesmente porque não conseguem deixar o vício. Pelo menos é o que aponta vários estudos feitos em todo o mundo. A dificuldade de parar de fumar envolve muitos fatores. Existem inúmeras formas de auxiliar o tratamento feito com remédios. Entre elas, a reposição de nicotina — que tem a função de fazer com que o organismo não sinta falta dessa substância de uma maneira drástica. Essa reposição é feita com o uso de adesivos na pele ou com chicletes. Os especialistas afirmam que a ajuda profissional é fundamental nessas situações. Não adianta apenas parar de fumar de forma abrupta ou gradual. Na maioria dos casos, não dá certo apenas desse jeito.
Apesar de estar cientificamente comprovado que parar de fumar é uma das tarefas mais difíceis para os viciados, vários pedidos de indenização são negados pela Justiça brasileira em ações movidas por familiares de ex-fumantes, que morreram com algum tipo de câncer causado pelo cigarro. As ações são movidas contra fabricantes de cigarro, que estão levando a melhor nessa batalha judicial. A Justiça tem entendido que a pessoa tem o livre arbítrio para começar e parar de fumar a hora que quiser. E mais: que as empresas que produzem cigarro exercem uma atividade lícita no país.
O poder público muito tem feito nos últimos anos para contribuir para as pessoas nem começarem a fumar. A proibição das propagandas de cigarro, por exemplo, foi uma medida acertada. As propagandas, ainda que não influenciassem gerações como já se alegou, passavam situações em que os fumantes eram tidos como pessoas saudáveis. E basta ler um pouco que o cenário montado por fabricantes nas propagandas é facilmente desmontado. Mas, apesar do que já foi realizado, principalmente pelo governo, para tentar conter o número de fumantes, muito ainda deve ser feito. As medidas contra o fumo devem ser cada vez mais duras. Com isso, além de o governo ter menos gastos na área da saúde, provocados por males causados pelo cigarro, a população vai ser mais saudável.
Arlindo Aburad é dentista, doutor em Patologia Bucal pela USP e patologista do Hospital do Câncer de Mato Grosso
Fonte:Expresso MT
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